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quinta-feira, 9 de abril de 2020

Oportunidades Disfarçadas nas Crises, do livro Oportunidades Disfarçadas, de Carlos Domingos

"NO FINAL DOS ANOS 1980, a União Soviética entrou no processo de abertura econômica. O então presidente Mikhail Gorbachev julgou que estava na hora de os membros do Partido Comunista conhecerem as regras do capitalismo.

Em vez de organizar uma palestra com um guru econômico ou indicar a leitura de um livro acadêmico, Gorbachev resolveu distribuir aos políticos dezenas de tabuleiros... de Banco Imobiliário (ou Monopoly, nome original americano). Segundo o presidente soviético, era a forma mais fácil de se entender a lógica do novo modelo.

Curioso que esse símbolo do capitalismo tenha surgido exatamente no momento da maior crise econômica da história: na Grande Depressão que se seguiu ao crash da Bolsa de Valores de Nova York.

Início dos anos 1930. O mundo vivia uma destruição de riqueza sem precedentes: entre 1929 e 1933, o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos encolhera 45%. Milhares de empresas fecharam as portas. Bancos, indústrias e negócios rurais reduziram drasticamente suas operações. Um em cada quatro trabalhadores perdeu o emprego. Mais de 12 milhões de americanos foram colocados na rua.
Em meio a essa turbulência, nos arredores da Pensilvânia, o engenheiro Charles Darrow era uma das vítimas do desemprego. Confinado em casa sem nada para fazer, ele tentava distrair os filhos contando histórias e improvisando brincadeiras.

Certo dia, Charles recordou um passatempo interessante que havia conhecido no trabalho: um jogo divertido mas com regras complexas que simulava negociar imóveis por valores fictícios. Pensando em entreter as crianças enquanto a esposa preparava a refeição, ele começou a desenhar na toalha de mesa uma cidadezinha, com casas e prédios inspirados nas construções da vizinhança. Definiu algumas regras e pronto.

A diversão conquistou inicialmente os filhos, depois os vizinhos e também os amigos. A única pessoa que não aprovou a novidade foi a esposa de Charles, que implicou com a toalha danificada. Mas o engenheiro logo a convenceu de que ali poderia estar o futuro de toda a família. Na situação crítica em que todos estavam vivendo, sonhar com propriedades, riqueza e fartura funcionava como alívio. Bastava ver o interesse de adultos e crianças para perceber o potencial da idéia.

Pensando em faturar com aquilo, Charles procurou o principal fabricante de jogos da região: a Parker Brothers. Foi atendido pelos diretores e explicou detalhadamente como a novidade funcionava. Para sua surpresa, os executivos não se animaram: “O jogo é chato, lento...”, “As regras são complicadas e confusas”, “Isso não tem a menor chance de fazer sucesso”.

Mas Charles não se deixou abater. Partiu para produzir a invenção por conta própria. Reuniu familiares e amigos desempregados como ele e fabricou cinco mil unidades, que negociou com uma loja de departamentos local. Os primeiros a comprar foram os próprios vizinhos, que já conheciam a novidade. Logo o estoque acabou. Uma nova leva foi produzida a toque de caixa, e também vendida rapidamente. O jogo virou sensação na região, gerando uma propaganda boca a boca tão grande que chamou a atenção da... Parker Brothers. Isso mesmo: a mesma empresa que anteriormente não havia demonstrado interesse.

Ah, como é gostoso ver as voltas que o mundo dá. Chamado às pressas pela diretoria, Charles recebeu um tratamento bem diferente desta vez: “Que jogo imaginativo, hein?”, “E crianças e adultos podem jogar juntos”, “Aceita produzir com a gente, Charles?”.

Fabricado em escala industrial, o Monopoly logo conquistou não apenas os Estados Unidos, mas o mundo inteiro. De um simples desempregado, Charles Darrow se transformou no primeiro criador de jogos milionário da história. Atualmente, sua criação é produzida em 26 línguas diferentes e está presente em 80 países. Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas já tenham jogado Monopoly em algum momento da vida."

Oportunidade Disfarçadas, Carlos Domingos
Editora Sextante
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